Marcello Tarì nos diz que Kafka é um dos grandes comunistas de todos os tempos. Sem dúvida, está correto.
Mas Kafka é também um dos mais importantes pensadores da an-arquia, já que identifica o vazio da máquina do poder e denuncia a sua principal estratégia, calcada em leis que, criadas para separar o povo e os nobres, compõem uma dimensão hierárquica, violenta e aflitiva.
Nesse sentido, a análise de Tarì busca conectar as linhas de fuga que, presentes de maneira fugidia na obra de Kafka, tornam possível desvelar o segredo do poder e assim desativá-lo, tornando inoperante a vigência sem significado que hoje nos subjetiva mediante uma série de afetos tristes, tais como o medo, a indiferença e a servidão voluntária.
Para tanto, é preciso tramar e conspirar para a construção de um partido de Kafka que, invisível e imaginário, aposta nas potências do comum, do corpo e das singularidades, configurando uma rede mutante e em expansão capaz de antagonizar o direito, o Estado, o capital e - por que não? - os microfascismos que se infiltram em nossos gestos mais insuspeitos.
Seguindo o fio da argumentação de Tarì, percebemos então que, longe de ser apenas um discreto escritor judeu do século passado, Kafka se configura como uma máquina de guerra voltada para a implosão do sujeito, da representação e do poder separado, conformando, ao seu modo quase cabalístico, uma forma-de-vida capaz de transmutar os portões da lei naquela pequena porta pela qual pode entrar o Messias, esse outro nome da revolução.
- Andityas Soares
LIVRO - "O partido de Kafka", Marcello Tarì
Marcello Tarì é um pesquisador independente, ou, como gosta de se autodenominar, um investigador de “pés descalços” cujos interesses se centram, sobretudo, na compreensão dos movimentos contemporâneos antagonistas. Tarì vive entre a França e a Itália, lugares onde colaborou com um sem número de publicações, revistas, além de compor diferentes lutas dentro da cidade. Fundador da revista italiana Qui i Ora [Aqui e Agora], Tarì publicou, entre outros, os livros, "Um piano nas barricadas: por uma história da Autonomia, Itália 1970" (2012, primeira edição DeriveApprodi) e "Não existe revolução infeliz: comunismo da destituição" (2017, primeira edição DeriveApprodi; a ser editado no Brasil pela GLAC e n-1 edições).
Título: "O Partido de Kakfa"
Coordenação Editorial: Fabiana Gibim, Alex Peguinelli e Rodrigo Corrêa
Capa&Diagramação: Rodrigo Corrêa
Preparo: Alex Peguinelli
Revisão: Fabiana GibimAno: Novembro de 2022
Páginas: 110
Tipo: Brochura
Formato: 11,5x16,5cm
Peso: 90g