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canto de morte aos meus irmãos

Atualizado: 15 de fev. de 2022




Conatus é a coluna semanal de poesia da sobinfluencia. Poesia das estrias do tempo, grávida de insurgências, de profundo dissenso, magnética à vida.

 

O poema em sua nomenclatura original é Chant de mort à mes frères ou então apenas À mes frères e data originalmente de 1871, ano da Comuna de Paris.

A voz de Louise neste poema irrepreensivelmente denso de imagens é de uma tensão entre elos munidos de contradição, progressividade e, ao mesmo tempo, constância. Somos embalados entre o toque molhado do sangue ao mar, do choque duro entre o ódio e a paixão, tudo numa ode ao tempo que, impresso e encarnado nas multidões que retumbam no poema, nos raptam num antro de coragem, ainda que completamente deslocados de uma gota de esperança sequer. É a imagem de um espaço profundo onde os sangue verte em rajadas violentas e, ainda sim, a vida escorrega, escapa, é altiva. Tradução de Fabiana Gibim. (Com agradecimentos ao querido amigo Gustavo Racy, pelo seu olhar e auxílio, sempre.)

 

Canto de morte aos meus irmãos


No relógio avariado, dias rápidos se vão, Passai, então! Levai tudo, ódio, paixão! Passai, passai, horas, dias! Deixai o mato crescer sobre os mortos! Tombai, coisas mal-natas! Deixei-os, barcos, os portos; Passai, ó noites profundas. Desabai, ó velhos montes; Proscritos ou mortos, regressaremos Das masmorras, das tumbas, das ondas. Retornaremos, uma multidão imensa; Viremos de todas os lugares, Espectros surgindo das trevas, Viremos, de mãos cerradas, Uns vestidos de brancas mortalhas, Outros ainda sangrentos, Buracos de bala em seus flancos, Pálidos sob nossas bandeiras vermelhas. Está tudo acabado! Os fortes, os bravos, Todos caíram, ó meus amigos; E já rastejam os escravos, Os traidores e degradados. Onde estais, ó meus irmãos, Filhos do povo vitorioso, Levais A Marselhesa nos olhos, Honrosos e valentes como nossos pais? Irmãos, na luta gigante Amei vossa coragem ardente, A metralhadora à voz retumbante E nossa flâmula fremente. Sobre as vagas, numa grande ondulação, É belo que tentemos a sorte; A recompensa é a morte; O fim, é salvar a multidão. Vencedores sinistros e débeis, Já que lhes é necessário todo nosso sangue. Vertei-o nas ondas férteis. Bebei de todos neste oceano. E nós, em nossos rubros estandartes Enrolemo-nos, para morrer. Juntos, nestes belos sudários, Podemos enfim adormecer.

 

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