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ghérasim luca por ghérasim luca

Atualizado: 16 de jul. de 2021


Colagem por Maurizio Narciso

A Fresta é uma coluna — uma colina — de periodicidade semanal dedicada a publicação de textos realizados no seio do movimento surrealista e arredores. Por Natan Schäfer

 

Ghérasim Luca (1913-1994) foi um poeta e multiartista de origem romena que ao longo de toda sua carreira manteve estreitas relações com o movimento surrealista e seus membros. Em 1977 Deleuze, que será diretamente influenciado pela filosofia “não-edipiana” de Luca, afirma à Claude Parnet que ele era “um grande poeta dentre os maiores”. Sua obra radical, rigorosa e intensa, estendendo-se por texto, som e imagem, demonstra um trabalho sobre a matéria da linguagem que vai além de áridos impasses e do virtuosismo fetichista, sendo capaz de abarcar questionamentos do ser e relacionar-se à experiência do maravilhoso e dos mistérios do mais-que-real. Aos 80 anos, Luca comete suicídio lançando-se no Sena, como fizera seu amigo Paul Celan 24 antes. O texto abaixo foi retirado livro- catálogo Tourbillon d’être, publicado pela Librairie Métamorphoses em 2019.

 

Me é difícil expressar-me em linguagem visual. Na própria ideia de criação-criação-algo poderia ter algo que escapa à descrição passiva tal qual, visto que ela decorre necessariamente de uma linguagem conceitual. Nessa linguagem, que é usada para designar objetos, a palavra tem apenas um ou dois significados e mantém o som prisioneiro. Que seja rompida a forma na qual ele está preso e novas relações apareçam: a sonoridade se exalta, surgem segredos adormecidos, o ouvinte é introduzido num mundo de vibrações que supõe uma participação física e simultânea à adesão mental. Solte a respiração e cada palavra se tornará um sinal. Provavelmente eu esteja ligado a uma tradição poética, uma tradição vaga e, em todo caso, ilegítima. Mas o próprio termo poesia parece-me falho. Talvez eu prefira: “ontofonia”. Quem abre a palavra abre a matéria e a palavra é apenas o suporte material de uma busca que tem como fim a transmutação do real. Mais do que situar-me em relação a uma tradição ou revolução, dedico-me a desvendar uma ressonância do ser, inadmissível. A poesia é um “silênciofone” e o poema um lugar de operação; nele a palavra está sujeita a uma série de mutações sonoras e cada uma das suas facetas libera a multiplicidade de sentidos de que estão carregadas. Hoje percorro uma extensão onde se dá o entrechoque do barulho com o silêncio — centro choque —, onde o poema toma a forma da onda que o pôs em movimento. Melhor, o poema é eclipsado por suas consequências. Em outras palavras: eu m’oralizo.

Ghérasim Luca Liechtenstein, 1968 LUCA, Ghérasim. Tourbillon d’être. Métamorphoses, 2019.



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