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guattari e as rádios livres na Itália


Uma entrevista com Franco Berardi na Radio Alice

Apresentamos um pequeno trecho, intitulado "Rádios Livres na Itália", de uma das três entrevistas realizadas por Tetsuo Kogawa, rádioartista e filósofo japonês, ao pensador francês Félix Guattari, em outubro de 1980.


As entrevistas foram publicadas pela sobinfluencia no livro "Guattari/Kogawa: Autonomia. Rádio Livre. Japão." (organizado por Anderson Santos).

 

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"Desejo e Revolução", em campanha de financiamento coletivo até 07/08/2022, é composto por uma entrevista realizada por Paolo Bertetto com Franco Bifo Berardi e Félix Guattari entre julho e setembro de 1977. A edição, organizada e traduzida por Vladimir Moreira Lima, conjuga a entrevista entre os três pensadores, bem como textos adicionais mencionados na conversa e relacionados ao "Movimento do '77", período inflamado pelas revoltas espontâneas da esquerda italiana extraparlamentar que, ainda que relacionados ao "Momento 68" francês, se diferenciava da França tanto em forma quanto em conteúdo, sendo explicitamente conteste ao sistema partidário e ao sindicalismo. De caráter essencialmente autonomista, o Movimento do '77, alterou as dinâmicas da vida política italiana, articulando antiproibicionismo, libertação homossexual, antiautoritarismo e produções culturais alternativas e independentes, como exemplificado pelo aparecimento da primeira onda do punk no país, e pela profusão das rádios livres (incluindo a Rádio Alice, de Bolonha, da qual Guattari fez parte), no agenciamento de produções e difusão de reivindicações políticas inovadoras e solidárias.


É neste contexto que a entrevista, que logo foi publicada na Itália sob o título de "Desiderio e Rivoluzione", se dá, agenciando temas diversos, entre opiniões por vezes contrastantes entre Guattari e Bifo, a respeito de eurocomunismo, luta de classes, desejo, subjetividade, revolução, agenciamento, semiotização e processos esquizo.


A seguir, publicamos um trecho da entrevista que abarca a relação entre crise e insurreição na história do movimento operário revolucionário, e a necessidade, posta por Bertetto, de reformulação das práticas coletivas. Tal questionamento, que norteará a continuidade do diálogo, levam Guattari e Bifo ao problema do internacionalismo socialista e, eventualmente, à micropolítica. É neste movimento que notamos as relações, aproximações e distanciamentos que marcam o pensamento de ambos os intelectuais que, não obstante, confluem em direção a uma constatação de extrema importância: a necessidade de fortalecer os agenciamentos moleculares e a micropolítica paralelas ao desenvolvimento das forças produtivas para que os níveis de transformação, as formas de existência efetivas, possam levar a um nova concepção e prática revolucionárias em direção à derrocada do Estado.

 

Rádios livres na Itália


Kogawa: No ano passado, em Nova York, o Comitê Contra a Repressão na Itália (CARI) foi organizado por iniciativa de alguns dos meus amigos. Em outros países, houve o surgimento de iniciativas semelhantes. No entanto, curiosamente, nenhum jornal o mencionou aqui no Japão, com exceção de meus pequenos artigos. E a mesma situação se aplica sobre as rádios livres na Itália. Como você se envolveu com a Radio Alice? Me parece que seu envolvimento está intimamente ligado à sua pesquisa e análise.


Guattari: Há muitos anos estou ligado a diversos correntes da Autonomia italiana e, como tal, estive em contato com os camaradas da Radio Alice. Eles me chamaram no momento em que toda a equipe foi detida em Bolonha (a pedido do Partido Comunista Italiano). Organizamos um grande encontro para protestar contra estas prisões em setembro de 77. Mais de cinquenta mil jovens se encontraram em Bolonha, o que me valeu uma forte hostilidade do Partido Comunista italiano. Em seguida, desenvolvemos uma corrente de rádio livre na França, o que me rendeu processos e muitas dificuldades com a polícia. Agora, o movimento se tornou importante, pois houve uma série de sindicatos e grupos políticos que se interessaram pelo desenvolvimento de rádios livres, visto que, na França, o

monopólio da rádio e da televisão é sentido como extremamente opressivo por muitas pessoas. Existem vários grupos que transmitem ilegalmente, apesar do monopólio.


Kogawa: Qual é a base teórica de sua implicação neste movimento de rádio livre?


Guattari: Em primeiro lugar, quando participo de algo, não espero encontrar sua necessidade teórica, em vez disso, me encontro “envolvido”, por assim dizer. No momento, acredito que esta questão da criação, do uso de massas de um meio como a rádio é uma questão essencial. Uma estação de rádio dirigida diretamente por jovens, por trabalhadores, por mulheres em luta, etc., permite estabelecer um novo tipo de contato entre militantes e toda população em geral, um contato mais direto. Na Radio Paris 80, a qual estou associado, recebemos dezenas de telefonemas que passamos ao vivo. Temos aqui um aspecto daquilo que chamo de “transmissões transversais de comunicação” porque ouvir alguém falar diretamente na rádio é muito diferente de escrever um artigo ou ter qualquer tipo de comunicação escrita. Não há apenas a comunicação de mensagens, mas há a transmissão de afetos, de um outro tipo de semiótica. Neste sentido, a utilização de formas livres de televisão e vídeo também nos daria novas áreas a serem consideradas. Não há razão para permitir que o capitalismo utilize este tipo de meios, é preciso encontrar uma apropriação no nível da luta social, da luta revolucionária.



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