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por um amanhã que saiba jogar

Atualizado: 16 de jul. de 2021



Colagem por Felipe Campos



A Fresta é uma coluna — uma colina — de periodicidade semanal dedicada a publicação de textos realizados no seio do movimento surrealista e arredores. Por Natan Schäfer

 

O texto abaixo foi apresentado ao grande público no livro Tracts surréalistes et déclarations collectives - Tome 2 1940-1969, organizado por José Pierre. Os dois tomos organizados por Pierre reúnem os panfletos e declarações realizadas pelo grupo surrealista de Paris desde sua fundação. No texto abaixo, que circulou internamente em 1967, observamos um grande esforço de organização das atividades do grupo após a morte de seu magnetizador André Breton. A partir destas resoluções torna-se evidente o rigor e o compromisso exemplares dedicados às diversas atividades desenvolvidas pelo grupo. Embora destinado à circulação interna, estas resoluções vão para além dos problemas imediatos do grupo de Paris e, a meu ver, apresentam uma grande valência com relação a questões que se nos apresentam atualmente. Resolução interna destinada a pôr termo à formação de clichês e interditar a formação de dogmas no Surrealismo. Acreditar ou não na possibilidade de uma ação surrealista atualmente, sob a forma que lhe foi dada por mais de 40 anos, ou seja a somatória de recursos individuais — sejam eles de ordem intelectual ou sensível, criativa ou crítica, experimental ou teórica —, é a primeira questão desejamos colocar. Essa questão envolve todas as demais. A ninguém é dada a capacidade de fechar, diante de um futuro imediato do Surrealismo, o intervalo hoje em dia escancarado entre o Sim e o Não. Breton quis ser o instrumento através do qual a vida de cada um desembocava na aventura coletiva e daí tirava sua força. Foi graças a ele que desde 1920 o pensamento individual foi multiplicado pelo coeficiente coletivo e que a história do Surrealismo, ao invés de ser uma coleção de invenções sucessivas, foi a invenção comum de novos meios de agir e de sentir. A soma do pensamento pode sobreviver a Breton? Isso cada um deve julgar por si mesmo. Trata-se aqui de avaliar a fecundidade imediata e ulterior do pensamento surrealista considerado como um feito de Grupo. Ninguém dentre nós será incriminado por estimar que o falecimento de Breton anula toda aventura e perspectiva coletiva. A presente resolução foi elaborada pelos que tomam o partido inverso e que estimam que esta escolha não deve permanecer no estado de um voto de fé. Esta opção deve ser clara; ela condiz necessariamente com modalidades que atualmente permitem seguir em frente e encontrar um nova articulação entre o individual e o coletivo. Nós acreditamos que mesmo os que desejarem seguir numa aventura coletiva sem apresentar meios para isso devem imediatamente tirar as conclusões convocadas por suas convicções. Cada qual está de acordo a participar plenamente da atividade coletiva?: esta é a segunda questão que desejamos colocar.

Esta participação supõe: 1. — Para os parisienses uma frequentação regular do café La Promenade de Vénus (ao menos três vezes por semana). Não trata-se de modo algum de propor uma sistematização, sendo que alguns dentre nós podem temporariamente não estarem disponíveis e outros ainda encontrar-se na situação permanente de não poderem participar com assiduidade das reuniões. No entanto, cada qual deverá convencer-se de que o Surrealismo não é um passatempo como qualquer outro ao qual dedicamo-nos quando cai a noite. Por outro lado, a assiduidade demandada a todos não dispensa ninguém de fazer de sua presença signo e instrumento de uma participação eficaz. Se você não tem o que dizer: fique quentinho em casa. É esperado que cada qual convença-se da necessidade de animar nossas reuniões com informações novas e por uma reflexão que permita-nos não permanecer num estado de revolta verbal ou de entusiasmo sem comentários. 2. — A comunicação dos trabalhos individuais destinados a inserirem-se no quadro coletivo (L’Archibras; exposições surrealistas no estrangeiro, catálogos, correspondentes, etc). 3. — A preocupação de exercer e estimular sua própria imaginação com fins outros que a expressão individual, por mais interessante e necessária que esta última seja. É especialmente deplorável que as possibilidades técnicas oferecidas pelo projeto gráfico da revista L’Archibras não tenham suscitado nenhuma iniciativa por parte daqueles dentre nós particularmente designados por seus meios para inventar a paisagem surrealista de 1967. Lembremos uma vez mais que o projeto gráfico seguinte: poema ou texto ao qual justapõe-se com maior ou menor conveniência um desenho de um artista surrealista, criado ou não para a circunstância — lembremos que esta fórmula está condenada. O mesmo vale para a reprodução pura e simples de obras deste ou daquele de nós, exceto no caso delas desenvolverem um tema e formarem um todo significativo. O critério que sempre presidiu a concepção das exposições surrealistas, critério que tende a elaborar um “acontecimento” e, no mínimo, o contrário de pendurarem-se quadros na parede, ou seja, confrontar talentos, critério válido também para a participação dos artistas na L’Archibras. A comunicação de Alechinsky no nº1, que ressalta um série de recortes de suas próprias investigações e um calhamaço de documentos (do bonzo Sengai, de Lewis Carroll, de Matta); a comunicação de Camacho no nº2, que tenta reencontrar graficamente o procedimento rousselliano; ambos constituem, muitos especificamente, o modelo do que devemos apresentar em L’Archibras: elas colocam, tanto uma como a outra, os meios da pintura a serviço de preocupações extra-pictóricas. Todavia, tratam-se de relações individuais necessárias, mas de modo algum suficientes. Nenhum dentre nós limitaria-se a isso, exceto se estimamos que ele poderia legitimamente seguir uma carreira de artista no interior do Grupo que formamos, sem acreditar-se obrigado a orientar suas investigações no sentido de resultados não assinados. Deste ponto de vista, a falta de proposições para as capas da L’Archibras parece-nos significativa. 4. Respeitar os prazos de envio dos textos e documentos prometidos. Deveria ser inútil insistir ressaltando as dificuldades que enfrentamos com relação à edição da L’Archibras. A solidariedade mais elementar consistiria em facilitar a tarefa daqueles que assumem os contatos com Losfeld e Faucheux 1 . No entanto, isso é somente o aspecto superficial do problema. Seu significado profundo baseia-se na imagem que cada um de nós faz-se da L’Archibras: trata-se de saber se queremos fazer dela expressão viva do Surrealismo com toda espontaneidade da vida em si mesma, ou um antologia do pensamento de cada um em sua forma mais finalizada e minuciosa. É vão legislar no que diz respeito a tal assunto, sendo que cabe a cada ser juiz soberano. Entretanto, o mais desejável dos perfeccionismos deve ser denunciado como o pior dos males quando procede de um exagero inadmissível do Eu que assina, conduzindo à paralisia pessoal e à impotência coletiva. 5. A busca por “tribunas exteriores”, seja para manifestar-se individualmente, todavia enquanto surrealista, seja para expressar-se em nome de todos. Avaliamos como desejável examinar todas as propostas que nos são feitas e mesmo de tomar a iniciar de propor artigos a algumas publicações (La Quinzaine littéraire, par exemple). [continua]

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