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posfácio de "abolir", de guy debord, por erick corrêa




O verbete Abolir foi publicado, sem assinatura, no décimo primeiro fascículo da Encyclopédie des Nuisances (EdN) [1], em junho de 1987. Sua autoria, entretanto, é de Guy Debord (1931-1994), o qual já havia colaborado com a redação de outros dois verbetes na revista: Abat-faim e Ab irato [2]. A concisão e a clareza de Abolir o torna autoelucidativo, diferente de textos como A sociedade do espetáculo (1967) e Comentários sobre a sociedade do espetáculo (1988), que possuem uma carga teórico-conceitual mais extensa e, por vezes, enigmática. Por essa razão, este posfácio não pretende fazer uma exegese do verbete debordiano, mas apenas o contextualizar no percurso do autor.


Na França, o refluxo do movimento de maio-junho de 1968 levará ao naufrágio da Internacional Situacionista (IS) entre os anos de 1970 e 1972. Dos grupos que reivindicavam o legado situacionista, a EdN se lançava como a legítima representante do chamado “pós-situacionismo”, na medida em que contava com a participação do antigo integrante da IS, Christian Sébastiani, em seu núcleo de redatores, além da colaboração episódica de Guy Debord. Este foi, aliás, o único membro a permanecer na IS desde sua fundação, em 1957, até a dissolução, oficializada por meio de uma “circular pública” intitulada A verdadeira cisão na Internacional [3]. Assinado com Gianfranco Sanguinetti, este documento se concentrava numa crítica à ideologia “pró-situacionista” que, mais tarde, Debord associaria à própria EdN, conforme revelado pelas correspondências trocadas em 1987 com Jean-François Martos [4]. Tais cartas, que não serão incluídas nas Correspondências de Debord (2001-2008), expõem certa ambiguidade do antigo situacionista em relação aos enciclopedistas.

Pois, ao mesmo tempo em que criticava a revista para Martos, Debord agia como uma espécie de “mentor oculto” da EdN, exercendo certa influência sobre Sébastiani e Jaime Semprun [5]. Tanto que, após uma orientação de Debord [6], Semprun passa a dirigir a revista a partir do seu oitavo fascículo.


Esta relação contraditória passa a degenerar a partir do final de 1986, no contexto de um radical movimento secundarista de ocupações de escolas, ocorrido em Paris, contra a reforma educacional proposta pela chamada Lei Devaquet [7]. Para Debord, os enciclopedistas se abstiveram de apoiar o movimento mais avançado que a França havia conhecido desde 1968, limitando-se apenas a fazer circular uma nota de solidariedade, semanas após a sua diluição. O fascículo de nº 12 da EdN será dedicado centralmente a uma polêmica com Jean-Pierre Baudet e Jean-François Martos, àquela altura próximos de Debord e autores de uma brochura provocativamente intitulada Encyclopédie des Puissances [Enciclopédia das Potências]. Contendo o subtítulo “Circular pública relativa à algumas nocividades teóricas verificadas pelas greves do inverno de 1986-1987”, tal publicação polemizava abertamente com a EdN. Por se abster de intervir publicamente na polêmica, Debord será acusado, pelo antigo enciclopedista Miguel Amorós, de ter sido um “inimigo oculto da EdN”, e Martos de ser o seu “factótum” [8].


Escrito e publicado em 1987, Abolir também está situado no período de preparação dos Comentários sobre a sociedade do espetáculo (doravante Comentários), cuja redação será realizada por Debord entre fevereiro e abril de 1988. O assassinato, em 1984, de Gérard Lebovici [9], seu amigo e editor, bem como as calúnias jornalísticas que lhe seguiram, sugerindo uma insólita responsabilidade do antigo situacionista pelo crime, repercutirão de modo decisivo na reflexão estratégica que Debord conduzirá no último decênio de sua vida. Numa carta endereçada ao próprio Lebovici, ele parecia intuir, referindo-se à distopia orwelliana, que aquele não seria um ano como outro qualquer: “este ano de 1984 começa verdadeiramente como se tivesse a intenção de retornar ao seu conceito” [10]. Alice Becker-Ho [11] também reconhece que, “destes anos (...) muitas coisas serão retidas, analisadas e alimentarão os próximos Comentários sobre a sociedade do espetáculo[12]. Assim, o período de 1984-1988 será efetivamente marcado pela circunspecção que tantos eventos plenos de graves consequências pessoais exigiam de Debord. Eles de fato alimentaram alguns dos principais diagnósticos e atualizações dos Comentários: a modernização da repressão estatal, manifesta nas maquinações emergentes do antiterrorismo; o recuo do pensamento racional e o correlato avanço da mentira e da desinformação na gestão dos regimes democráticos ocidentais, que passavam a incorporar técnicas de governo dos velhos regimes totalitários, em especial da Rússia stalinista. No ano de 1989, os protestos massivos ocorridos na praça de Tian’anmen em Pequim, a revolução romena disparada em Timişoara, a Queda do Muro em Berlim (respectivamente em maio-junho, novembro e dezembro daquele ano), confirmariam rapidamente as principais teses debordianas de 1988, ao reiterar o movimento de unificação global e modernização do sistema capitalista (ou de integração das variantes “difusa” e “concentrada” do espetáculo, nos termos debordianos), bem como a emergência das democracias totalitárias contemporâneas, cujas origens se encontram nelas diretamente tematizadas por meio do conceito de “espetáculo integrado”.


Ao mesmo tempo, os acontecimentos daquele ano verdadeiramente orwelliano teriam um papel decisivo também na constituição da EdN. Já em seu segundo fascículo, os enciclopedistas destacavam uma de suas principais motivações:

em 1984, o assassinato de Gérard Lebovici, editor de George Orwell, entre outros, e a campanha de delação lançada na ocasião contra Guy Debord, demonstram que a liquidação da crítica social está na ordem do dia, e passa eventualmente pela de seus raros partidários declarados [13].


Em seu início, portanto, a EdN se apresentava como uma espécie de guardiã do legado situacionista. O próprio conceito de “nocividade” [nuisance] havia sido extraído, pelos enciclopedistas, do documento de dissolução da IS [14].


Contudo, Debord discordava da leitura “pessimista demais”, exposta por Semprun no segundo fascículo da EdN, sobre o “fator subjetivo revolucionário” no “quadro geral das nocividades” da época [15]. Esta ausência de uma percepção dialética da conflitualidade histórica, detectada por Debord, partia de uma “constatação” que Semprun e os enciclopedistas julgavam, todavia, como algo central: a da impossibilidade de qualquer retorno da revolução no contexto dos anos 1980. Assim, repercutia-se de certa maneira a ideologia “pós-moderna” em voga no período, que proclamava triunfante uma abolição paródica da história e da memória, do proletariado, das classes e dos conflitos sociais, assim como da própria ideia de revolução. A EdN poderia ser incluída, nesse sentido, na crítica que o próprio Debord direcionará, nos Comentários, aos ideólogos neoliberais ou neoestalinistas de sua época, os quais “liquidaram com a inquietante concepção, que predominara por mais de duzentos anos, segundo a qual uma sociedade podia ser criticada e transformada, reformada ou revolucionada” (§ VIII) [16].


Entretanto, parte da intelectualidade de esquerda receberá afirmações deste tipo, manifestas nos Comentários de 1988, como expressões de uma mal caracterizada “virada pós-moderna” no pensamento do antigo situacionista, que teria assim abandonado o suposto “marxismo” do seu livro de 1967. Michael Löwy, por exemplo, conclui que “Debord denuncia no ‘espetáculo integrado’ a eliminação sistemática da história e a aniquilação de todo projeto crítico” [17]. Contudo, ao confidenciar a preparação de seu novo livro a Martos, Debord salientava que “o trabalho da crítica revolucionária seguramente não é o de levar as pessoas a desacreditarem da possibilidade de revolução” [18]. Consequentemente, lê-se nos Comentários que “jamais as condições foram por toda parte tão gravemente revolucionárias”, e que “a negação [...] há muito tempo está dispersa” (§ XXX), o que guarda certa distância da “aniquilação” identificada por Löwy.


O programa abolicionista, ao contrário do que pensavam os vitoriosos do ciclo de lutas dos “longos anos sessenta” [19], nunca deixou de ampliar suas demandas, dado que a história não foi nem pode ser realmente abolida, contrariando a “ideologia nipo-americana” [20] de Francis Fukuyama. A história do Estado, de seus regimes de acumulação e dilapidação, de exploração e opressão, tampouco se repete, mas continua a se reproduzir e a reinventar permanentemente os dispositivos civilizatórios, portanto hierárquicos, do colonialismo e do genocídio, da escravidão e do racismo, do patriarcalismo e do sexismo. Esse telos maléfico, próprio do capitalismo de acumulação, revela que nenhuma opressão foi ainda abolida da história diretamente pelas mãos dos oprimidos, mas somente por meio de uma abolição “ao revés” [21], como Debord comenta em seu verbete de 1987. Tal abolição paródica resulta de um longo processo de recuperação e integração, pelos opressores, das autênticas expectativas de libertação e das lutas por autoemancipação dos oprimidos.


Precisamente por se tratar de um processo tautológico (de acumulação pela acumulação), termos como “pós-moderno” ou “pós-colonial” são inadequados para interpretar tal fenômeno: a modernidade, a colonialidade e o capitalismo não constituem acontecimentos pretéritos, mas continuam impregnados na totalidade antagônica das relações sociais, enraizados em cada aspecto da vida cotidiana, assumindo novas formas e muitos disfarces, alguns deles cirurgicamente dissecados por Debord neste Abolir. Do mesmo modo, o programa situacionista de abolição do mundo do espetáculo, isto é, do Estado e da mercadoria, suas alienações e nocividades, não constitui um corpo anacrônico de expectativas de libertação social. É nesse sentido, afinal, que Giorgio Agamben qualificou a reflexão de Debord como “verdadeiramente contemporânea” ou inatual, isto é, que “não coincide perfeitamente com seu tempo nem se adequa às suas pretensões”, mas que, “justamente através desta separação e deste anacronismo, é mais capaz de perceber e agarrar o seu tempo” [22].



Erick Corrêa é doutor em Ciências Sociais e professor de sociologia da Educação Básica do estado de SP. É co-organizador e co-tradutor do livro 68: como incendiar um país (2018) e do e-book Insurgência viral: autodefesa sanitária e despotismo ocidental (2020), ambos editados pela coleção “Baderna” (Ed. Veneta). Também possui artigos e traduções publicadas em jornais e revistas do Brasil, como Angelus Novus, Kalagatos, Sopro e Passa Palavra; e do exterior, como Punkto, Mapa, Flauta de Luz (Portugal), Lundimatin (França) e Brooklyn Rail (EUA).

NOTAS: [1] Enciclopédia das Nocividades (1984-1992). O subtítulo da revista, Dictionnaire de la déraison dans les arts, les sciences et les métiers, desviava o título da Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, de Diderot e D’Alembert. Sua criação foi anunciada em 1979, no nº 3 da revista L’Assomoir (1978-1985). Seus principais redatores foram Jaime Semprun, Miguel Amorós, Pierre Lepetit, Guy Bernelas, Jacques Fredet, François Martin, Pascal Moatti, Jacques Philipponneau, Christian Sébastiani e Jean-Pierre Gomez.

[2] Publicados nos fascículos nº 5 e 9 (sendo quinze ao todo), de novembro de 1985 e 1986, respectivamente. “Abat-faim” foi traduzido para o português (Enganar a fome. Lisboa: Frenesi, 2000).

[3] O título desta “circular pública” da IS desviava aquele da “circular privada” da Associação Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional), intitulada As pretensas cisões na Internacional (1872).

[4] Cf. 1998. Correspondance avec Guy Debord. Paris: Le Fin Mot de L’Histoire.

[5] Filho da atriz e dramaturga francesa Loleh Bellon e do comunista espanhol Jorge Semprun, Jaime Semprun (1947-2010) era também sobrinho do anarquista Carlos Semprun Maia, autor de Revolução e contrarrevolução na Catalunha (1936-1937), livro que Jaime ajuda a redigir precocemente, aos vinte e três anos de idade, entre os anos de 1970 e 1971. Este conhecerá Debord pessoalmente na ressaca de 1968, no momento em que a IS desaparecia, por volta de 1972. Colaborou com a revista L’Assomoir, antes de fundar a EdN. Em 1991, funda as Éditions de L’Encyclopédie des Nuisances, que seguirá a linha anti-industrial da revista.

[6] Cf. DEBORD, G. 2006. Carta de Guy Debord a Jaime Semprun, de 13 de fevereiro 1986. In. Correspondance vol. 6 (1979-1987). Paris: Fayard, pp. 379-382.

[7] Projeto de lei apresentado por Alain Devaquet, ministro encarregado do Ensino Superior e Pesquisa no segundo mandato de Jacques Chirac (1986-1988), e visava introduzir uma concorrência entre universidades. As manifestações contra o projeto de lei foram marcadas pela morte de Malik Oussekine, de 22 anos, morto pela polícia. O projeto foi retirado em 8 de dezembro de 1986 (N.d.E.).

[8] Cf. “Postfacio à la ‘Historia de diez años” [2004]. Encyclopédie des Nuisances. Esbozo para un cuadro histórico de los progresos de la alienación social. Editorial Klinamen, 2005, p. 73. (Tradução nossa).

[9] Fundador e proprietário da editora Champ Libre, célebre empresário do cinema francês (tendo agenciado Catherine Deneuve e Gérard Depardieu), foi amigo de Debord, a quem conheceu no período de dissolução da IS. Os Comentários debordianos de 1988 foram dedicados à sua memória.

[10] Cf. DEBORD, G. 2006, Correspondance vol. 6 (1979-1987). Paris: Fayard, p. 254. (Tradução nossa).

[11] Poetisa de origem chinesa e autora de várias obras, como Les princes du jargon (1990) e La part maudite dans l’œuvre de François Villon (2018), Alice atuou com os situacionistas junto ao Conselho pela Manutenção das Ocupações (CMDO), em maio-junho de 1968. Casou-se com Debord em 1972, de quem organizará o conjunto de suas Correspondências (2001-2008) e Obras completas (2006). Detentora dos direitos de reprodução da obra debordiana, Alice intermediou a aquisição, em março de 2010, dos arquivos pessoais de Debord pela Biblioteca Nacional da França.

[12] Cf. Correspondance vol. 6 (1979-1987). Paris: Fayard, 2006, p. 7. (Tradução nossa). Amorós defende um ponto de vista inverso sobre essa questão. Segundo o antigo enciclopedista valenciano, “não deixa de surpreender que Debord captasse a novidade do trabalho enciclopedista melhor que a EdN e a aproveitasse para escrever seus ‘Comentários’, onde partia da vitória total do espetáculo e esquecendo a sua opinião de 1972, totalmente oposta” (2005, p. 73). A despeito da hipótese levantada por Amorós, a EdN fará uma menção positiva aos Comentários no penúltimo fascículo da revista. Cf. Encyclopédie des Nuisances, nº 14, novembro de 1989, p. 22.

[13] Cf. “Histoire de dix ans. Esquisse d’un tableau historique des progrès de l’aliénation sociale”. Encyclopédie des Nuisances, nº 2, fevereiro de 1985, p. 44. (Tradução nossa).

[14] “A poluição e o proletariado são hoje os dois lados concretos da crítica da economia política. O desenvolvimento universal da mercadoria foi plenamente verificado como a realização da economia política, ou seja, como a ‘renúncia da vida’. No momento em que tudo entrou na esfera dos bens econômicos, mesmo a água nas nascentes e o ar nas cidades, tudo se tornou um mal econômico. A simples sensação imediata das ‘nocividades’ e perigos, mais opressivos a cada trimestre, que atacam antes de tudo a grande maioria, ou seja, os pobres, já constitui um imenso fator de revolta, uma exigência vital dos explorados, tão materialista quanto foi a luta dos trabalhadores do século XIX pela possibilidade de comer”. Cf. La véritable scission dans L’Internationale. Paris: Champ Libre, 1972, § 17. (Tradução nossa). Segundo Amorós, este neologismo “se refere a qualquer fator que prejudique as pessoas comuns, entre eles as contaminações, as centrais nucleares, o trabalho assalariado, a alimentação industrial, o consumismo, o machismo, os dirigentes, os capitalistas, etc., mas acima de tudo, a nocividade suprema: o Estado. Com a ideia de nocividade, a Enciclopédia denunciava a característica mais comum da organização social e o resultado principal da produção moderna”. Cf. “Cazarabet conversa con Miguel Amorós sobre el libro ‘El abismo se repuebla’, de Jaime Semprun”. Cazarabet, 28 de abril de 2017, s/p. (Tradução nossa).

[15] Carta de Guy Debord a Jaime Semprun, de 05 de março de 1985. Cf. DEBORD, G. 2006. Correspondance vol. 6 (1979-1987). Paris: Fayard, p. 309. (Tradução nossa). A relação entre Debord e Semprun, remete ao período da revolução portuguesa, entre 1974 e 1975, quando o primeiro atribui ao segundo a “tarefa” de redigir um livro de análise daquele processo desde uma perspectiva situacionista. A guerra social em Portugal, de Semprun, será publicado primeiramente na França (1975), depois em Portugal (1976).

[16] DEBORD, G. 1997. A Sociedade do Espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto.

[17] Cf. LÖWY, M. 2011. Un possible intempestif, disponível em: <danielbensaid.org/Un-possible-intempestif> . (Tradução nossa).

[18] Cf. DEBORD, G. 2006. Correspondance vol. 6 (1979-1987). Paris: Fayard, p. 450. (Tradução nossa).

[19] A derrota da revolução portuguesa em 1975, junto com o golpe de Estado no Chile no ano anterior, são vistos por Frederic Jameson como marcos conclusivos deste período histórico que, segundo a sua periodização, teve início no final da década de 1950. Cf. BUARQUE DE HOLLANDA (org.). 1992. “Periodizando os anos 60”. In. Pós-modernismo e política. Rio de Janeiro: Rocco.

[20] Cf. DEBORD, G. 1993.“Cette mauvaise réputation...”. Paris: Gallimard, p. 31. (Tradução nossa).

[21] “Certos pontos deste programa já foram, de algum modo, realizados, entretanto ao revés, pelo progresso da contrarrevolução neste século”.

[22] Cf. BERNARDINI, A. (org). 2011. “Prefácio”. In. A coisa perdida: Agamben comenta Caproni. Florianópolis: Editora da UFSC, p. 8. O filósofo italiano dedicará à memória de Debord o livro Moyens sans fins. Notes sur la politique [Meios sem fins. Notas sobre a política], publicado na França em 1995, no ano seguinte ao suicídio de seu amigo e interlocutor.

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