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Saul Newman explica: Pós-anarquismo

Atualizado: 28 de jun. de 2022



 

APOIE A CAMPANHA DE FINANCIAMENTO COLETIVO DE "DO ANARQUISMO AO PÓS-ANARQUISMO"



 

Em campanha de financiamento coletivo para a publicação de "Do anarquismo ao pós-anarquismo", de Saul Newman, primeiro título da Coleção Rastilho, organizada por Lucas Lazzaretti e focada na discussão de teorias anarquistas contemporâneas, a sobinfluencia disponibiliza um trecho de uma entrevista gravada pelo autor, em março de 2011, em Londres, para o documentário Anarchism: A Documentary, nunca finalizado.


No trecho, Newman destaca brevemente de que modo sua concepção de pós-anarquismo se refere, antes de tudo, a uma atualização de inúmeros preceitos do anarquismo clássico à luz, e com o auxílio, do pensamento da segunda metade do século XX, por meio de pensadores como Foucault, Deleuze, Derrida e Lyotard.

 

O vídeo pode ser conferido abaixo, assim como a transcrição da fala de Newman: "Ok, então, a primeira coisa a ser dita é que pós-anarquismo não deve significar o fim do anarquismo, ou o fato de que vivamos em um período após o anarquismo, por exemplo. Nem deve significar estar depois do anarquismo ou a exaustão do anarquismo. Ao contrário, vejo o pós-anarquismo como uma tentative de repensar e revitalizar certos aspectos da política filosófica anarquista, majoritariamente através da teoria pós-estruturalista e as intervenções de pensadores como Michel Foucault, Deleuze, Jacque Derrida e etc…


Creio que o projeto principal do pó-anarquismo seja tentar pensar o significado do anarquismo sem os profundos fundamentos ontológicos que, como vejo, caracterizam o anarquismo clássico. Com isso, quero dizer que, se lermos os trabalhos de Bakunin, Kropotkin, Proudhon, Godwin e vários outros pensadores do anarquismo nos séculos XVIII e XIX, veremos que certas afirmações sobre a natureza e a essência humanas reservam em si uma certa ontologia baseada em noções de lei natural, um tipo de concepção positivista acerca das relações sociais. Por exemplo, Bakunin e Kropotkin acreditam que é possível assumir um tipo de visão cientificamente objetiva do mundo, que é possível observar certas tendências naturais em trabalho nas relações sociais que se desenrolarão em direção a uma sociedade anarquista. Kropotkin, acreditava ser possível encontrar as tendências que levam ao apoio mútuo nas espécies animais e de algum modo se voltou à biologia evolutiva para explicar o comportamento humano e para enfatizar o tipo de elementos de solidariedade que ele dizia ser essenciais para nós como seres humanos e eu acho que até certo ponto, devemos abandonar essas noções.


A política radical, em geral, não pode mais contar com esse tipo de fundacionalismo presente na natureza humana, ou nas leis da sociedade e assim por diante. Então penso que o anarquismo como teoria, hoje, se deparou com a instabilidade da identidade e ausência dessas fundações ontológicas profundas; além, também, daquilo que Lyotard chamou de “crise das meta-narrativas”. Então, de modo geral, temos que pensar sobre o que o anarquismo significa hoje, no mundo contemporâneo, sem ser expresso ou sumarizado num tipo de narrativa universal confuso, seja a natureza humana, a emancipação ou a revolução.


É isso, então, que vejo como o projeto do pós-anarquismo: uma tentativa de repensar, revitalizar e atualizar certos aspectos do anarquismo ao mesmo tempo em que reafirmando e mantendo aquilo que vejo como realmente central para o anarquismo, que é a ética da liberdade equitativa, o anti-autoritarismo e a solidariedade".


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