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segunda nota sobre o objeto

Atualizado: 29 de jun. de 2021


Colagem por Alex Peguinellli



A Fresta é uma coluna — uma colina — de periodicidade semanal dedicada a publicação de textos realizados no seio do movimento surrealista e arredores. Por Natan Schäfer

 

Em Segunda nota sobre o objeto Jean Schuster (1929 - 1995), executor testamentário de André Breton e um dos líderes da malfadada autodissolução do movimento surrealista em 1969, dá continuidade à discussão iniciada com a Primeira nota sobre o objeto, cuja tradução foi publicada por nós n’A Fresta. O texto foi originalmente publicado em setembro de 1962 na revista La Brèche N°3 e posteriormente passou a fazer parte dos volumes Archives 57-68, batailles pour le surréalisme (Losfeld, 1969) e T'as vu ça d'ta f'nêtre : Lettres à André Liberati contre les acolytes de Dieu et les Judas de l'athéisme (Manya, 1990).

 

A verdadeira solidão é o vazio que me separa do objeto. Ela aparece quando tenho consciência de uma dupla ilusão: — a ilusão realista, sendo o objeto tal qual é comunicado pela percepção e como prolongamento cenestésico; — a ilusão poética, sendo o objeto criado ou recriado interiormente por iluminação. Entre o espírito e o objeto, todos jogos são permitidos, porém não passam de jogos num vazio irremediável. A fila de poetas e filósofos é absorvida por este vazio e não o objeto pelos poetas e filósofos. Atrás da porta daquilo que o espírito acredita ser o paraíso do conhecimento há a coorte, cada vez maior, dos pretendentes à vitória sobre o objeto, todos eles mais nitidamente quebrados pelo erro do que pela morte; todos, cada um deles, formidavelmente sós. Eles são o passado do espírito humano, até então desconhecido e que tinha necessidade de um profeta: cá estou. O espírito é o senhor do objeto, tão rigorosamente como o senhor é o senhor do escravo. Senhor duas vezes enganado. Para realizar-se enquanto espírito ele desejou a morte do objeto; mas o objeto morto, destruído, anulado deixa de significar e de significar o triunfo do espírito. O espírito deu graças ao objeto e o escravizou, suspenso na precariedade, submetido à análise, à meditação, à reflexão, à iluminação. Conseqüentemente, esse objeto reduzido e alienado não poderia testemunhar; a verdade que ele carrega não transcende sua condição; ela não pode estabelecer o espírito. Eis o beco sem saída. O senhor e o espírito não tem destino. O escravo e o objeto, sim. Ainda é preciso ser pessimista.

Jean Schuster Tradução: Natan Schäfer



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