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impactos do coronavírus na vida das mulheres

Atualizado: 2 de mar. de 2022


Arte por Rodrigo Corrêa


Antes de mais nada, ao falar da questão de gênero, é importante dizer que falo a partir de sua interseccionalidade com raça e classe, do contrário seria uma análise injusta e incompleta, já que são indissociáveis.

Diversos números apontam um maior impacto desse novo coronavírus na vida das mulheres, em relação aos homens. Como um primeiro exemplo, por conta da necessidade da quarentena, muitas mulheres se vêem presas em casa junto de seus agressores. Tal fato levou ao aumento de 50% no índice de violência doméstica no país, segundo a OMS. Lembrando que o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres vítimas de violência doméstica.

Para as mulheres que estão trabalhando de casa, além de expostas à violência de seus parceiros, quando mães, o desafio é ainda outro. Já que cuidar dos filhos - trabalho não pago - ao mesmo tempo se concentrar no trabalho pago não é simples.

No Brasil, de acordo com a pesquisa “Aspectos dos Cuidados das Crianças de Menos de 4 anos de Idade, PNAD - 2015”, entre o ano de 2001 e 2015 cresceu em 105% o número de lares com mães solo. São quase 29 milhões de famílias chefiadas por mulheres que necessitam de serviços de assistência. As medidas que, atualmente, estão sendo tomadas pelo governo para o oferecimento da renda emergencial para mães com trabalhos informais é essencial, e deveria ser algo permanente.

As trabalhadoras informais estão entre as que mais sofrem em meio a essa pandemia já que não possuem estabilidade financeira e, na maioria das vezes, são impossibilitadas de trabalhar em casa. Isso em um país em que mais da metade da população, cerca de 51%, é composto por mulheres. Ao passo que metade desse número relaciona-se às mulheres negras e 47,8% dessas mulheres possuem trabalho informal, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.

Outro dado importante de se notar é que 92% da classe de trabalhadora doméstica é formada por mulheres, sendo que 62,9% são negras. Além disso, das 5,7 milhões de empregadas domésticas, 73% não possuem carteira assinada (IBGE, 2018).

Exemplo mais gritante de como essas mulheres estão entre as mais prejudicadas pelo novo coronavírus -e pelas consequentes políticas econômicas, classistas, racistas e patriarcais - é o caso da primeira pessoa morta pela COVID-19 no Rio de Janeiro: uma mulher negra de 63 anos, empregada doméstica, não dispensada de seu trabalho mesmo em meio à pandemia, contaminada pelo vírus que sua patroa trouxe ao voltar de viagem da Itália.

Não sei quanto tempo seria necessário para abordar absolutamente todos os casos e exemplos sobre impactos na vida das mulheres em relação a esse sistema predatório em que vivemos e a atual pandemia, mas um penúltimo ponto que quero abordar aqui é sobre a ONG Mulheres da Luz.

Para contextualizar, o Parque da Luz, na cidade de São Paulo, é um ponto de prostituição de mulheres de 50 a 70 anos de idade, todas elas pertencem ao grupo de risco da COVID-19. Muitas são mães e avós responsáveis pelo sustento de suas famílias. Neste momento, a ONG tem arrecadado alimentos e produtos de limpeza para formar kits e cestas básicas, assim como doação dinheiro para pagamento das contas básicas dessas mulheres.

A mesma coisa tem acontecido com os moradores em situação de rua (apenas em São Paulo são mais de 32 mil pessoas vivendo na rua segundo Movimento Pop Rua) e, para piorar, não há vagas suficientes em centros de acolhimento.

Nesse sentido, como é possível que essas pessoas tenham os recursos necessários para uma higiene e boa alimentação, vivendo em situações como essas?

A resposta é simples, nesse atual sistema econômico insustentável, não há essa possibilidade.

Finalizando, não posso deixar de mencionar medidas que estão sendo tomadas na área em que atuo profissionalmente, arquitetura e urbanismo, e que inevitavelmente pode afetar a vida de tantas mulheres já mencionadas aqui.

Segundo o Instituto Trata Brasil, em 2016, 1 a cada 7 mulheres brasileiras não tinha acesso a água, isso porque não milhões de brasileiros que vivem sem saneamento básico. De novo, como tratar da saúde sem um recurso tão basilar como a água?

Para tanto, o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), lançou uma proposta de Plano Emergencial para Arquitetura em meio a pandemia da COVID-19, defendendo a prática da ATHIS (Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social), visando, entre outros objetivos, a melhora das condições de moradias precárias.

Se o fundo pontuado no plano fosse liberado, uma assistência como essa poderia causar um impacto positivo na saúde de cerca de 72 mil brasileiros. E, claro, considerando que, na sociedade patriarcal em que vivemos, a mulher é quem cuida da casa, isso geraria um grande impacto na vida das mulheres que tem todo o trabalho da reprodução social.

São diversas as medidas que devem ser acolhidas pelo poder público e que estão sendo reivindicadas pela sociedade civil, como a renda básica emergencial já mencionada, mas também a suspensão dos despejos e remoções forçadas, o uso dos edifícios públicos e quartos de hotéis para o isolamento da população mais vulnerável ao vírus, entre tantas outras.

Medidas de apoio como essa são essenciais para o manter a vida dessas pessoas já totalmente desprovidas do mínimo necessário a uma existência socialmente saudável. Nesse sentido, devemos reforçar as palavras ditas uma vez pela escritora Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer”.


Texto por Dandara Luigi.

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