top of page
Foto do escritorsobinfluencia

rumo a um marxismo animalista

Atualizado: 29 de jun. de 2021


Colagem por Maurizio Narciso

Último Crime: A intenção dessa coluna - que se pretende semanal - é trazer material crítico, preferencialmente inédito em nossa língua, para contribuir com as discussões que permeiam seres humanos e não humanos e sua luta pelo fim da exploração do trabalho, sua busca por autonomia e a superação do modo de produção em que [sobre]vivemos. Os textos que pretendemos publicar neste espaço examinam as diferentes relações estabelecidas, na história e no momento atual, entre os seres (animais) humanos e os seres (animais) não-humanos, dentro da perspectiva dialética, materialista e anticapitalista.


 

“Quando um explorador de animais compra um não-humano, ele não está comprando o animal simplesmente, mas uma vida inteira de sua força de trabalho, que é usada para criar mercadorias que incluem - entre outras - sua prole, secreções e sua própria carne.”

 

Para desenvolver um animalismo marxista, precisamos situar animais não-humanos no interior da teoria do valor-trabalho, construída sobre a base teórica deixada por pensadores antiespecistas como Barbara Noske e Bob Torres. O socialista vegetariano George Bernard Shaw certa vez alegou: “Não preciso de uma teoria de valor para me dizer que os pobres são explorados”. Eu simpatizo com esse anti-intelectualismo. A verdade é que para que animalistas sejam capazes de efetivar políticas entre espécies, devem aprender a falar nos termos de marxistas - vez que possuem desproporcional influência na esquerda revolucionária. Embora eu esteja muito longe de ser um especialista em minúcias da teoria comunista, foi isto que tentei começar a esboçar aqui. Animais domesticados, da mesma maneira que escravos humanos, são distintos dos proletários, porque não vendem sua força de trabalho sob a pretensão da livre escolha. Ao invés disso, são mercadorias [commodities]. Sua força de trabalho é vendida toda de uma só vez ao invés de ser vendida reiteradamente, como ocorre com o proletariado. “O escravo não vendeu sua força de trabalho ao dono de escravos, da mesma forma que o boi não vende seu trabalho ao dono da fazenda”, como disse Karl Marx. “O escravo, juntamente com sua força de trabalho, foi vendido ao dono de uma vez por todas. Ele é uma mercadoria [commodity] que pode passar da mão de um dono à outro. Ele em si é uma mercadoria, mas sua força de trabalho não é sua mercadoria.” No marxismo, trabalho necessário, é o trabalho necessário para reproduzir a força de trabalho do explorado. No contexto humano, é o trabalho que escravos ou proletários realizam para criar o equivalente a reprodução de seu meio de vida. Todo trabalho que ocorre além disso é trabalho excedente, ou seja, trabalho não remunerado que cria lucro para o senhor de escravos ou para o capitalista. Animais domésticos também realizam trabalho necessário e trabalho excedente, que serve de lucro aos seus proprietários. Quando um explorador de animais compra um não humano, ele não está comprando o animal simplesmente, mas uma vida inteira de sua força de trabalho, que é usada para criar mercadorias que incluem - entre outras - sua prole, secreções e sua própria carne. Se seu trabalho necessário seria o suficiente para criar o equivalente a sua comida e abrigo, seu trabalho excedente, que é usado para enriquecer seu proprietário, é tudo além disso. Dentro do marxismo, há duas diferentes maneiras com que os proprietários de escravos e os capitalistas podem expandir o mais-valor que seus trabalhadores produzem. O aumento do mais-valor absoluto é obtido aumentando o tempo total de trabalho em determinado período. Por exemplo, um proprietário de escravos ou um capitalista podem aumentar a duração da jornada de trabalho ou permitir menos dias de folga anualmente. Enquanto isso, o mais-valor relativo é criado pela redução da quantidade de mão-de-obra dedicada ao trabalho necessário em proporção à dedicada ao trabalho excedente. Exemplificando, um proprietário de escravos ou um capitalista podem reduzir o que constitui o necessário para a reprodução de seus trabalhadores ou provocar um aumento na produtividade. O trabalho excedente de animais domésticos também pode ser dividida na geração de mais-valia relativa e absoluta. Por exemplo, quando a jornada de trabalho de um cavalo que puxa carruagem aumenta de seis para nove horas, nesse caso, o mais-valor absoluto é produzido para o proprietário do animal. Em contraste, o mais-valor relativo é criado quando a produtividade das galinhas é aumentada por meio da manipulação genética e da introdução de hormônios de crescimento. De igual forma, o mais-valor relativo também é produzido pela redução dos custos de reprodução social da vida do animal por meio de um confinamento intensivo. Por óbvio que o que constitui a libertação para os escravos ou proletários é diferente do que constitui libertação para animais domesticados. Enquanto o objetivo econômico final dos trabalhadores humanos é o controle dos meios de produção, os animais domesticados, se fossem capazes, presumivelmente não iriam querer tomar uma fazenda industrial e administrá-las por si próprios, mas apenas ser completamente removidos do processo de produção. Espero que não haja tantos erros teóricos aqui, além da subversão intencional do antropocentrismo do marxismo clássico. Novamente, as complexidades da teoria não são meu forte. Não há dúvidas de que expandir radicalmente e, onde for necessário, corrigir, esse breve esboço de uma potencial análise marxista-animalista (marxist-animalist). Nesta era de Occupy Wall Street, Kshama Sawant e Fight for $15 [1], acredito que isso se tornará cada vez mais relevante.


 

Nota do Tradutor: [1] Fight For $15 é um movimento, agora global, que teve início em 2012, quando duzentos trabalhadores de fast-food deixaram seus subempregos demandando um salário de $15/h, além de direitos sindicais na cidade de Nova York.


 

O presente artigo, escrito por Jon Hochschartner, foi publicado virtualmente, no sítio da CounterPunch, em junho de dois mil e quatorze. Hochschartner, é autor também de The Animals’ Freedom Fighter: A Biography of Ronnie Lee, Founder of the Animal Liberation Front.


 

Tradução de Alex Peguinelli. Para comentários e sugestões enviar e-mail para: antiespecismocritico@gmail.com

36 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page